segunda-feira, 18 de abril de 2011

Recomeço.


Sempre interessou-me a possibilidade do recomeço. Mais do que começar, o recomeço é exercício do esforço e da vontade. O início, geralmente, tende a ser espontâneo, natural, se dando quase que por explosão. O início é a explosão do acaso. Conhece-se alguém e, naturalmente, há um envolvimento. O pequeno cão, ainda filhote, chega e, facilmente, toda a casa se reconhece por um afeto outrora incomum. Incomum, mas natural. Não tem nada de incrível nisso.
Sempre interessou-me a possibilidade do recomeço. Encanto-me com a idéia de fazer de novo. Não é amar o pequeno cachorro apenas, mas amá-lo ainda mais depois de ter seu tênis destruído. Não é gostar de alguém atraente, mas se atrair por alguém que agora é quase um estranho. Plantar em terra fértil é garantia de boa colheita. Mas plantar em solo queimado, já quase sem vida, com sol fraco e chuva constante, é muito mais emocionante.
Não um relacionamento que se inicia, mas alguém que depois de algumas décadas juntos, redescobre em meio à obscuridade um novo sentido para amar. Dar chance ao outro de ser diferente. Se permitir ser diferente.
Cuidar da terra seca em busca de vida é refazer o que já está perdido. É olhar de novo, o que já estava esquecido. É perceber que chegou o Outono e, mesmo assim, ainda haver a vontade de cultivar um belo jardim.
O dicionário diz que recomeçar é tornar a fazer depois da interrupção. Pois não é. Recomeçar é ofício da continuidade. Quem busca no outro a esperança do recomeço já busca em si a possibilidade de ser alguém melhor.
E a menor intenção de ser melhor, já é amor.

(Yke)

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